O futuro da economia e o papel das stablecoins

O dinheiro nunca dorme e a economia não para. Sempre há eventos que aceleram a evolução das finanças e da forma como nos relacionamos com a troca de bens por produtos ou serviços. 

Em tempos recentes, a pandemia da Covid-19 deu um novo impulso em direção aos meios de pagamento digitais, conduzindo a uma aceitação mais ampla das alternativas do dinheiro físico. 

A digitalização dos serviços financeiros é, sem dúvidas, um caminho sem volta. Aqui no Brasil, por exemplo, o PIX teve uma aceitação tão grande que a circulação de dinheiro em espécie diminuiu em nada menos do que R$ 40 bilhões. 

Isso sem falar na entrada das criptomoedas no cenário. Desde que Laszlo Hanyecz comprou duas pizzas por 10.000 BTC, o mundo nunca mais foi o mesmo e o caminho a uma cashless society se consolidou como o padrão daqui pra frente. 

Hoje é dia de falar do futuro da economia, de criptomoedas, de stablecoins e do fim do dinheiro físico. Vamos nessa?

futuro da economia: icone de um banco e de um celular

Mudança de paradigma: uma sociedade sem dinheiro?

Em setembro de 2021, o presidente da Comissão de Valores Mobiliários e de Câmbio dos EUA (SEC), Gary Gensler, e o presidente da Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, publicaram uma declaração que foi destaque. 

Fizeram um chamado urgente pedindo a regulamentação das stablecoins, que são criptomoedas cujo valor está lastreado em outro ativo, para estabilizar seu preço. No geral, é usada uma moeda fiduciária para parear o valor (como o USD), só que dentro de uma blockchain. 

Pense bem: governos, organizações e empresas só prestam atenção em algo que seja efetivamente relevante para o mercado financeiro. 

E se o Fed está preocupado com as stablecoins, é porque elas já conquistaram seu lugar nas finanças globais. 

De fato, as declarações de Powell e Gensler se configuram como mais evidências da ideia de que as stablecoins têm um enorme potencial para cumprir um papel fundamental no futuro da economia digital e das finanças globais. 

Isso acontece porque são ativos mais previsíveis, à diferença de criptmoedas como bitcoin ou o ethereum, entre oturas, que costumam apresentar uma maior flutuação de valor. 

De uma forma ou de outra: o dinheiro está evoluindo, como sempre o fez, só que em um ritmo muito mais acelerado. 

Inclusive, o próprio conceito de dinheiro está se transformando em algo diferente. Aqui no Brasil, por exemplo, o real digital está a ponto de estrear e vários outros países estão igualmente trabalhando em suas CBDCs (Central Bank Digital Currencies).

O bitcoin foi o começo de uma revolução tecnológica e financeira que está a pleno vapor e que promete mais mudanças que vão impactar em todos nós. 

É o fim do dinheiro físico?

Não necessariamente. A digitalização ainda é um fenômeno muito recente e o dinheiro físico ainda tem seu lugar garantido dentro da sociedade e não vai desaparecer tão cedo. 

E, pensando bem, o papel moeda físico tem algumas vantagens ‘psicológicas’, tais como a privacidade e a segurança. Além disso, não são todos os países que estão implementando novas tecnologias monetárias, ou pelo menos, não no mesmo ritmo. 

Mas o dinheiro impresso tem suas desvantagens, como, por exemplo, a dificuldade para ser rastreado, os custos estruturais e até mesmo o impacto sobre o meio ambiente. Pensando em cripto: tudo de ruim que o dinheiro físico tem é exatamente o que as criptomoedas têm de bom. 

futuro da economia: relação entre dolar e ETH

Relações entre descentralização e Stablecoins

Durante a última década, a descentralização foi um conceito chave no mundo econômico. 

A expansão das criptomoedas mudou a ideia de que o valor e a emissão de dinheiro precisam ficar nas mãos de  organizações governamentais. Trata-se de um novo paradigma que, além do mundo cripto, estendeu-se a ambientes mais tradicionais. 

A descentralização introduziu dois conceitos fundamentais: Peer-to-Peer (P2P) e Blockchain, sendo esta última a protagonista dessa mudança de paradigma: da centralização à descentralização. 

No ecossistema criptográfico, já não é necessário que uma terceira parte garanta o valor do dinheiro, isso agora é impulsionado pela lei da procura e da oferta e só faz falta que duas partes estejam de acordo para que uma decisão seja tomada. 

Isso estimula o bitcoin e outras moedas digitais a se movimentarem em contextos de volatilidade e incerteza.

Com base neste conceito, um segmento do mercado de criptomoedas cada vez mais importante e visível foi atrás de atender exatamente a esta necessidade, mas de uma forma oposta: a estabilidade. 

Os bancos foram retirados da equação e substituídos por stablecoins, ou moedas estáveis, que são criptomoedas indexadas a alguma moeda como o dólar americano ou ao preço de uma mercadoria como o ouro. 

Antes das stablecoins, a única forma de transferir dinheiro digitalmente era através de um intermediário (um banco ou um processador de pagamentos como a Visa). 

Com a criação de stablecoins, surgiu uma forma digital de dinheiro mais avançada tecnologicamente do que um sistema bancário online. As “stables” também oferecem aos investidores criptos a oportunidade de participar da revolução blockchain com um ativo mais previsível.

Vantagens e desvantagens de uma sociedade sem dinheiro

Com tudo isso em mente, todos os dias há cada vez mais alternativas ao dinheiro físico tão habitual em nossas vidas. 

As empresas não querem ser deixadas de fora e procuram formas de aceitar pagamentos digitais e o mercado cripto está crescendo em volume com diferentes startups que expandem ainda mais as possibilidades. 

A ideia de viver numa sociedade sem dinheiro tem muitas vantagens, mas também apresenta algumas questões que podem não parecer atrativas, seja para os usuários como para as organizações.

Benefícios

  • Taxas de criminalidade mais baixas, uma vez que não há dinheiro tangível para roubar.
  • As transferências são feitas em segundos, igual a quando você faz um PIX.
  • As stablecoins são úteis porque podem ser usadas 24/7 em qualquer parte do mundo, sem depender do horário bancário.
  • Rapidez e custos reduzidos associados à manutenção, armazenamento e depósito de dinheiro.
  • Câmbio mais fácil durante as viagens internacionais.

Desvantagens

  • Expõe informações pessoais a uma potencial violação de dados.
  • Se um hacker rouba uma conta bancária ou se alguém tiver problemas técnicos, fica sem uma fonte alternativa de recursos.
  • Quem não tem conhecimentos técnicos sobre cripto, não possui uma conta bancária ou até um celular, fica sem a possibilidade de participar do novo sistema.

Enquanto alguns países, como a Índia e a Suécia, implementaram uma sociedade sem dinheiro e tiveram níveis de sucesso variáveis no seu caminho ao dinheiro 100% digitalizado, nenhum dos dois demonstrou como planeja ajudar os marginalizados do futuro da economia digital. 

De fato: ninguém sabe exatamente qual vai ser o resultado deste mundo utópico. Mas uma coisa é certa: o mercado das stablecoins deixou as criptomoedas ainda mais auto-suficientes e menos dependentes de terceiros. 

Tudo isso confirma que, nos próximos anos, são os bancos tradicionais, e não as criptomoedas, que vão lutar para se manterem relevantes na vida cotidiana.